32 – A SEGUNDA INFÂNCIA – A Idade Escolar

Enquanto na primeira infância a ênfase do desenvolvimento humano recai sobre a formação dos vínculos de apego, o aparecimento do Eu, os primeiros passos para a autonomia, iniciativa, socialização primária (com sua própria família) e as primeiras identificações com as figuras parentais, na segunda infância, aproximadamente de sete anos em diante, a ênfase recairá na socialização da criança fora de casa, uma vez que ela estará madura o suficiente para ingressar na escola.  É bem verdade que o ingresso aos sete anos na escola parece tardio para os padrões das sociedades urbanas de hoje, porque muitas mães necessitam voltar ao trabalho e assim precisam antecipar o processo de socialização secundária, quando o processo primário ainda não se completou.

Gostaria de entrar na segunda infância explicando o porquê discordo de pesquisas que são elaboradas por entidades respeitadíssimas em educação, como por exemplo, o projeto Effective provision of pré-school and  primary education, 1997-2008, o maior estudo europeu sobre a eficácia da pré-escola. Neste estudo, como em vários do gênero, a pré-escola tem uma avaliação positiva, já que a freqüência à pré-escola está associada ao melhor desenvolvimento intelectual-cognitivo, e sociocomportamental.  No entanto, não se leva em consideração que crianças na primeira infância estão ainda em fase de formação dos vínculos mais importantes de suas vidas, os vínculos familiares, o apego com as figuras parentais.  A vida em família com pais, avós, tios e primos trazem vários ensinamentos que acompanharão a criança para o resto de suas vidas. Aliás, precisam chegar à escola com estes ensinamentos, pois como respeitarão os professores se não o aprenderem com as figuras de autoridade de seu lar? As crianças precisam ter um mínimo de limites, conhecer que existe aquilo que é proibido, interditado, ou seja, aquilo que é do outro; dizer muito obrigado e por favor, estes valores são aprendidos na convivência do lar e são pré-requisitos à socialização secundária, ao convívio escolar.

A criança que ingressa muito cedo (dois ou três anos) na pré-escola ingressará na fase de socialização secundária, porém ainda devendo o aprendizado e consolidação de valores da fase anterior. O convívio com a família será reduzido, provocando um déficit que, de alguma forma, provocará consequências afetivas impossíveis de serem mensuradas em pesquisas.  Inclusive, como venho apresentando, não podemos esquecer que é na primeira infância que está em jogo a fundação da personalidade, a estrutura que balizará como o sujeito enfrentará as questões de sua vida.  Sem contar que não há como mensurar a qualidade de ligação afetiva que estas pessoas terão na vida adulta.

Assim, se por um lado as pesquisas apontam vantagens cognitivas e sociocomportamentais na pré-escola, o fazem desconsiderando estas questões que apresentei.  Imagine um edifício, que por uma questão de pressa dos construtores, não fizeram a devida compactação do solo, ou não respeitaram a devida profundidade das estacas. Ora, a fundação fica enterrada, mas o que vemos acima do solo nos diz sobre o que está abaixo da terra.  Assim é a primeira infância, a fundação de toda uma vida. Não deveria ser negligenciada, suprimida ou dividida com outros momentos. Por isso, considero que antes dos cinco anos, a pré-escola está completamente inadequada, devendo ser evitada sempre que possível pois o benefício que trouxer por um lado será às custas do prejuízo de um outro.

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