As relações sociais nem sempre foram como as que conhecemos hoje e, certamente, ainda mudarão muito nas gerações futuras. Com esta compreensão, jogo luz ao tema deste texto: ADOLESCÊNCIA – A Grande Travessia
Se pararmos para observar a história da humanidade antes da Revolução Industrial, veremos que, com a chegada da idade reprodutora (entre 13 e 15 anos), o jovem já dominava o ofício do pai e já estava pronto para se casar, porque já reunia as condições de prover o sustento da família. O casamento acontecia com a aprovação da família e de seu círculo social. Desde antes de Cristo, este era o modelo que perdurou de maneira uniforme, em toda parte do mundo, até o Século XVIII, com a mudança do modo de produção. O advento da Revolução Industrial trouxe consigo a necessidade de especialização da mão de obra. A partir daí, o jovem, ao chegar na puberdade, sendo morador de sociedades urbanas, via-se pronto para transmitir sua herança genética, todavia incapaz de sustentar uma família, já que não poderia entrar no mercado de trabalho sem a tal formação profissional. O desenvolvimento tecnológico, progressiva e lentamente, ao longo de duzentos anos, fez com que a idade biológica reprodutiva não coincidisse mais com a idade socialmente produtiva. Hoje temos um hiato ainda maior, pois as profissões se tornaram muito complexas, fazendo com que sejam necessários vários anos de formação para iniciação no mercado de trabalho. Este lapso de tempo entre o início da puberdade e o ingresso no mundo social produtivo é o período que chamamos de ADOLESCÊNCIA.
Falando da adolescência bem resumidamente, sem entrar em detalhes psicológicos, podemos afirmar que esta fase é caracterizada pelo conflito da ambiguidade “posso, mas não posso”. Trata-se de um momento de contínuo incômodo, já que o indivíduo se percebe adulto para algumas coisas, enquanto seus pais o interditam com base na imaturidade, ou o contrário, os pais esperam do filho jovem uma reação madura ou, ainda, a realização de tarefas complexas, ao passo que o filho não se sente pronto para corresponder àquela expectativa, ou simplesmente se nega cumpri-la por não se enquadrar naquele modelo apresentado. Aliás, frequentemente, regras que trazem os contornos bem definidos dos cuidados parentais não fazem o menor sentido para o adolescente. Eis, então, o grande dilema do adolescente: quer ir adiante e o interditam / não quer ir onde os pais ordenam que vá, seja por que não se sentem prontos, ou por que não é para lá que gostariam de ir.
Não bastasse a problemática vivida pelo adolescente, ainda existe a problemática vivida pelos pais que insistem em resolver suas questões, projetando-as na criação dos filhos. Temos aí o pai que sonhou ser médico, não conseguiu, agora quer que seu filho o seja. A mãe que foi reprimida na adolescência e quer que a filha seja a garota mais popular da escola. Os pais que passaram por muitas dificuldades econômicas e querem compensar, oferecendo aos filhos oportunidades de um consumo desmedido. E por aí vai.
Quando os embates entre pais e adolescentes se intensificam, ultrapassando os limites do bom-senso, ambos, em igual proporção, precisam de terapia: os jovens para ampliarem a consciência de sua real condição, trabalhando a ansiedade, aprendendo a lidar com o tempo e seus caprichos, como também com o processo de construção de sua nova identidade; os pais, para não projetarem nos filhos os sonhos não realizados e modelos de mundo não vividos, ou para não se permitirem ressuscitar os espectros daqueles medos e frustrações que vivenciaram no seu tempo de adolescência.
O fato é que os atritos diminuem muito quando os pais são bem resolvidos, seguros de si, conscientes de que os filhos estão no caminho de fazerem suas próprias escolhas e nenhum problema existe se as escolhas deles forem diferentes das suas. A verdade é que quando se respeita a pessoa do outro, se respeita igualmente o seu modo de vida e isto precisa valer também para relação pais e filhos (principalmente!). Pais de adolescentes precisam aprender a orientar e influenciar seus jovens, sem aquele olhar de reprovação fatal. Precisam saber distinguir a autoridade abusiva do direito que se tem de disciplinar o filho nos limites do respeito, do equilíbrio e principalmente da empatia.
Disciplinar continua valendo para a fase da adolescência, mas há de ser uma “disciplina cuidadosa e empática”, levando-se em conta a complexidade de mudanças biológicas e psicossociais pelas quais passa o filho adolescente. Há um tempo em que os pais dizem: “eu não estou reconhecendo o meu próprio filho”. Isso parece bem difícil e aflitivo para os pais. Porém, pensemos: o próprio filho não se reconhece mais! É como estar no meio do nada, ou em lugar indefinido. Ele não cabe na velha e apertada forma da infância, mas se sente solto numa imensidão, e perdido naquele outro lado, no tal mundo adulto. É uma transição bem mais penosa aos filhos, certamente. E o mais curioso: se por um lado o processo é doído, por outro é normal. Na maioria dos casos, não há nada de errado com esse grande sofrimento que o acomete.
Então, os pais precisam encontrar a maneira adequada para não atrapalharem a travessia, sendo assertivos e otimistas, focando na incontestável e espetacular experiência de ver o filho crescer.
Aos meus leitores, estarei realizando a Conferência: DO NASCIMENTO À ADOLESCÊNCIA no próximo Sábado 25/05, será um espaço onde você poderá tirar dúvidas após a palestra. Veja as demais informações abaixo. Um Grande Abraço.