Recentemente realizei uma palestra “LIMITES E REGRAS”, onde pontuei que o problema da desobediência desenfreada das crianças tem origem ainda no berço. Quando nascemos, ainda nos primeiros anos de vida, entramos no processo de maturação fisiológica e psíquica. Ou seja, não nascemos prontos para a vida. Ainda estamos no meio do processo. Para que tal desenvolvimento ocorra satisfatoriamente, dependemos que o meio seja favorável ao desenvolvimento fisiológico e psicológico.
No que diz respeito ao psiquismo, segundo a teoria de Freud, a personalidade se formará na primeira infância. Ele postulou que nascemos pulsionais, ou seja, nascemos dirigidos apenas por desejos. A estrutura psíquica que traz à luz os desejos foi chamada por Freud de ID. Ao longo da primeira infância, as vivências darão origem à formação de mais duas estruturas psíquicas, a saber o EGO e o SUPEREGO. Este último é personificado através dos limites e proibições que foram apresentados à criança. Então fica assim: desejos inconfessáveis de um lado (ID) e o que proíbe do outro (SUPEREGO). Cabe ao EGO administrar entre obedecer ao SUPEREGO (consciência moral), ou às pressões do ID (desejos inconfessáveis). Resumindo, é um SUPEREGO bem formado e um EGO capaz de superar uma frustração que farão com que a criança tenha mais facilidade em obedecer sem que os pais precisem se estressar tanto.
Mas na prática, como esta estrutura psíquica se forma?
Por incrível como pareça, as primeiras rotinas do neném colaboram para a introjeção das primeiras regras, culminando na estrutura psíquica do superego. Por exemplo: horário das mamadas, que com o tempo vão se estabilizando, horário de tomar banho, ser cuidado sempre pelo mesmo cuidador, ter hora de acordar, ter hora de dormir diferente do horário dos pais, uma casa estável, onde a criança se sinta segura, e etc. O rigor destes rituais, ainda na fase bebê, é um ótimo início para a formação do superego. Com o crescimento, em cada fase, novas conquistas e outras regras vão entrando no REPERTÓRIO DE LIMITES da criança. Inclusive, a noção de que existe alguma coisa proibida, tipo a gaveta do papai, ou a caixa de ferramentas do vovô, ou um quarto de depósito de coisas em desuso, levam a criança ao aprendizado das primeiras regras.
Não precisa explicar porque é proibido, como dizia Winnicott “o limite é o desejo de quem cuida”. Então, fica assim: ‘Não pode porque não pode’, ou ‘não pode porque eu não quero’. Se a criança fizer birra, pois estão lhe tirando o prazer de ter acesso ao proibido, não se preocupe, é normal. Deixe que ela expresse seu descontentamento, mostre sua ira (sem exagerar), ou fique triste com você e se frustre. As frustrações são importantes para que ela aprenda a lidar com suas emoções. Aliás, ao longo da vida, muitas frustrações a esperam, como por exemplo, uma nota baixa no colégio, não poder ganhar um brinquedo caro, não poder vestir roupas de marca, não ter acesso a um celular top de linha, ouvir que o namoro acabou, ficar desempregado, descobrir que poderia ter escolhido melhor o cônjuge, e etc. São as pequenas frustrações desde a mais tenra idade que fortalecerão o EGO para suportar as grandes frustrações da vida. Desta maneira, é importante desde cedo que se aprenda como manejá-las.
Observe que os antigos sabiam fazer isso com facilidade. Quem tem mais de cinquenta anos hoje sabe do que eu estou falando. Quem está entre 25 e 50 nasceu numa fase de transição e os que tem menos de 25 já são frutos de uma paternidade que teve muitos problemas em apresentar limites aos filhos. Limites tiram o prazer e muitos pais da atualidade acolheram a ideia de que seus filhos não podem ter problemas ou passar pelas dificuldades que eles passaram. Em consequência, facilitam em demasia a vida dos filhos, oferecendo até o que não podem, pensando que a facilitação à concretude de desejos tornará os filhos pessoas bem resolvidas e com futuro promissor.
Concluindo, é justamente porque não lhes foram oferecidas regras, limites e desafios na tenra idade, em nome da ideia de que “eu não quero que ele passe pelas dificuldades que eu passei” , que temos tantos jovens com dificuldade em obedecer. Há um déficit na estrutura de personalidade que os impossibilita à obediência com facilidade. Nessa linha, resta a pergunta: como cobrar obediência e respeito de um adolescente que não passou pelo aprendizado dos limites naturais impostos pela vida em família, ou seja, pelo primeiro grupo social no qual se deveria aprender as noções básicas de convivência, ética e amor?
Olá amigo, Amigo Álvaro.
Muito bom seu comentário. Continue ajudando muita gente a lidar com as questões do comportamento humano.
O livro de Provérbios de Salomão diz: “Ensina a criança no caminho em que deve andar; e até quando for velha não se desviará dele”.
Forte abraço