45-QUE FILHO DEIXAREMOS PARA O MUNDO?

Tenho demonstrado em meu blog, em quase todos os textos, as consequências inadequadas, quando no processo de desenvolvimento fases do crescimento dos filhos são ignoradas, puladas ou antecipadas.  No entanto, sempre examino as consequências do ponto de vista individual, ou seja, o que acontece no plano pessoal com a criança que é fruto de déficit afetivo. A minha intenção aqui é chamar a atenção dos pais para a sua responsabilidade ao gerarem filhos. Por outro lado, há várias outras consequências, quando a paternidade/maternidade é negligenciada ao extremo. Neste texto vou demonstrar que a negligência na criação de filhos pode fazer um estrago na vida de muita gente e tirar a paz de uma sociedade inteira.

Para tanto preciso lançar mão de um evento que ocorreu na década de setenta nos EUA. Assim você vai entender, na prática, que responsabilidade na criação de filhos fará toda a diferença na vida de todos. Neste período, a criminalidade nos grandes centros urbanos americanos estava em alta, a ponto dos especialistas em políticas públicas afirmarem que o país estava à beira de um caos completo, de uma verdadeira guerra civil. Ocorre que, em 1989, a taxa de criminalidade começou a cair, espantosamente, durante toda a década dos anos noventa. Pasmem! No começo dos anos 2000 a taxa de criminalidade chegou próxima das taxas dos anos de 1950.  Não se conseguia explicar o porquê desse fenômeno. A educação não havia melhorado tanto e a polícia não estava tão melhor preparada que justificasse a queda da criminalidade.

Foi aí que uma pesquisa proposta por dois economistas da Universidade de Chicago, Steven Levitt e John Dunohue, esclareceu o ocorrido.  Este trabalho se chamou “The Impact of Legalized Abortion on Crime” (em bom português: O Impacto da legalização do aborto sobre o crime).  Ele propunha “que a legalização do aborto quase trinta anos atrás fora o maior responsável pela queda da criminalidade em todo o pais.”  Até 1970, apenas, cinco Estados Americanos permitiam o aborto, mas em 1973 a Suprema Corte Americana legislou sobre a questão tornando-o legal em todo o território americano.  Na verdade aqueles que reivindicavam a  legalização do aborto não tinham por motivação a diminuição da criminalidade, este foi um efeito colateral. Veja a conclusão de parte do artigo de onde tirei estas informações:

“ Para Levitt, autor do artigo, após o tratamento dos dados e diversos testes estatísticos, não há dúvidas de que a acelerada queda na criminalidade foi um efeito de segunda ordem da liberação do aborto nos anos 70. A explicação é simples e dura: crianças que não nasceram eram aqueles que iriam passar suas infâncias em ambientes de risco. Grande parte das mulheres que fizeram abortos apresentavam, simultaneamente ou não, as seguintes características: adolescentes, pobres e solteiras.  Segundo outro estudo, crianças que viriam a nascer com mães que se encaixavam nos critérios acima listados teriam 50% mais chances de viver na pobreza e 60% mais chance de viver com apenas um dos pais. Na mesma linha, de acordo com estudo empírico realizado por Comanor e Phillips, vivenciar uma infância pobre e viver com apenas um dos pais são fatores indicativos das chances de um indivíduo cometer um crime no futuro, bem como o baixo nível educacional da mãe.”

Como você pode observar, os abortos que foram praticados e, coincidentemente, também foram realizados por aquelas mães que não teriam condição de se responsabilizar, adequadamente, pela criação de seus filhos.  Quero que fique bem claro que eu sou radicalmente contra o aborto e que meu texto não serve como apologia à prática do aborto seja por que motivo for, tampouco para se resolver o problema da criminalidade.  No entanto fica demonstrado que paternidade/maternidade de qualidade não é um benefício apenas para um determinado indivíduo, mas toda uma sociedade sai ganhando quando um pai e uma mãe desejam o filho e lhe querem tão bem a ponto de se  capacitarem para esta missão.  Pais assim se esforçam pela boa formação do filho e são abnegados em prol dele.  Filhos dependem das vivencias e interações de casa para se constituirem futuro promissor em uma sociedade. Por isso, vale à pena se dedicar ao máximo. Em muitas circunstâncias, desacelerar os projetos pessoais  para exercer com louvor a missão materna/paterna não será nem tão difícil. Se você levar em consideração que viverá 80 anos em média, criar um filho lhe custará menos de 25% de toda a sua vida. Então, vale a pena fazer isto direitinho. Nesse caso, todos ganham!  Ganha você, diante da realização de ter um filho adulto com psiquismo saudável; ganha o  filho, por se entender realizado e feliz e ganha a sociedade da qual ele faz parte.

Cabe muito aqui o caminho inverso daquela pergunta que muito preocupa os pais: que mundo deixarei para o meu filho? Sim, talvez, o mais adequado seja perguntar: que filho deixarei para o mundo?

Fonte – https://www.infomoney.com.br/colunistas/terraco-economico/crime-e-aborto-e-a-magica-solucao-da-criminalidade-americana/

4 thoughts on “45-QUE FILHO DEIXAREMOS PARA O MUNDO?

  1. Eliane Bispo dos Santos da Silva says:

    É uma verdade ,eu tenho visto exatamente isso com minha filha de 17 anos,mesmo com uma grande ausência da figura do pai , eu decidir abrir mão da minha vida pessoal por um tempo para me dedicar mais a ela, e hoje os resultados são de grande orgulho pra mim. Verdadeiramente vale a pena investir tempo para os nossos filhos.

  2. CLAUDIA SAMPAIO says:

    Interessante seu texto. Confesso que no primeiro momento, achei que vc está referindo que o aborto, seria viável diante das condições da futura gestora. Porém, dando continuidade ao texto, concordo quando vc diz que o filho desejado e amado, com certeza será um indivíduo saudável na sociedade futura.
    Parabéns!!!!

    • Carlos lyra says:

      Penso ter compreendido seu artigo e concordo plenamente. Porém baseando-me na pesquisa narrada, acredito que o fator econômico da família, deve ser uma variável a ser considerada. Valores morais e familiares, acredito não ser privilégio de uma determinada classe social , porém oportunidades de ascenção social em muitos casos, sim.
      Considerando que o “sucesso” na educação dos filhos passa também pelas conquistas e contribuições sociais que o resultado dessa educação pode gerar, penso ser de extrema necessidade uma política social justa onde verdadeiramente todos possam ter oportunidades iguais e não privilégios.
      Agora se pensarmos tão somente no núcleo familiar como gerador de bons cidadãos, é evidente que essa família se torna, segundo minha percepção, o maior agente influenciador.
      Em meus comentários tenho como objetivo alimentar as idéias, para alargar mais o conhecimento, a reflexão e a consciência.

      Parabéns, que Deus continue te usando com sabedoria e entendimento cada vez maior.
      Um forte e grande abraço!!

  3. Susan says:

    Ótimo texto.
    Realmente, que filhos deixaremos para mundo?
    Nos pais temos que refletir constantemente sobre isso
    Acredito que ter respeito, amor, afeto, carinho é o princípio de tudo.
    Muito bom o texto👏👏👏👏

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