O título deste texto, “TROQUEI O MEU SOFRIMENTO PELO DELA” é retirado do comentário de uma mãe, que impactou meu coração com suas palavras, carregadas de emoção e da mais honesta e profunda reflexão ao comentar o texto anterior, “QUE FILHO DEIXAREMOS PARA O MUNDO?” Resumidamente, ela dizia que deixou de sofrer quando abriu mão de seu relacionamento conjugal, mas passou a sofrer de uma forma mais cruel ao ver o sofrimento da filha. Ela termina seu comentário com um apelo para que os pais conscientizem seus filhos para que este ciclo não se prorrogue. Então, quero dedicar estas linhas para falar sobre esta conscientização e como isto pode acontecer de verdade.
Esse processo de conscientização, na maioria das vezes, quando chega a acontecer o estrago já está pronto, pois, hipoteticamente, o filho já tem quinze anos, já conheceu madrasta e o irmãozinho do segundo relacionamento e todos os demais desdobramentos dessa ramificação familiar. É natural que a vivência do segundo casamento amadureça o novo casal, trazendo-lhes o peso de sua responsabilidade ao obrigá-los a amargar as consequências de uma separação, uma disputa onde, só bem depois, se percebe que não houve vencedores. Todos perderam. Atualmente este é o quadro que traz tardiamente a conscientização, quando já não há mais conserto na história daquelas pessoas.
Relacionamentos conjugais destruídos são histórias diferentes, mas eles têm um fio condutor único: não saber lidar com a pessoa do outro. Muitos ditos populares reforçam essa idéia. Cito dois bem conhecidos: “Mulher é tudo igual, só muda o endereço”. “Homem é igual lata, uma chuta a outra cata”. Idéias como estas reforçam uma única realidade: não há como viver bem no relacionamento conjugal sem saber enfrentar o desafio da convivência com o outro. Seja lá quem for o outro, nunca será fácil.
O que estas histórias de separação têm em comum é que a criança, definitivamente, perde a figura paterna. Um pai distante fica anulado para exercer a sua função, se torna um objeto perdido na vida criança. Geralmente, na melhor das hipóteses, o pai leva a criança para passar o sábado ou o fim de semana em sua companhia, mas esquece que o filho está em idade de receber educação e neste detalhe falha, pois se omite em ser enfático na correção, quando necessária. Para compensar sua ausência, faz vontades ao filho, leva para o shopping e lhe dá presentes. É um pai desvinculado da função paterna. Por outro lado, alguém precisa exercer esta função, que acaba ficando por conta da mãe. Sobrecarregada com as duas funções de base, materna e paterna, para o bom desenvolvimento do psiquismo, esta mãe deixa a desejar nestes papeis, principalmente naquele que não seria o seu. Ela também precisa lidar com as questões ligadas ao financeiro, pois convencionou-se que a pensão é para o filho e nada deve ser dado a quem fará todo o trabalho SOZINHA. No que diz respeito ao filho, ele não pode ser dividido. Afetos o ligam às figuras paterna e materna, leiam Freud e Piaget, quando estes falam de desenvolvimento humano, e vocês verão que não tem como uma criança entender a separação conjugal. Ela tem que aceitar sem entender, então, coloque-se em seu lugar, como você fica quando tem que aceitar uma coisa que não tem condição de entender? Pois é. É assim que ela fica, perdida. Sem saber o que está acontecendo de verdade, segue apresentando os sintomas da desarrumação familiar, que podem variar entre ansiedade, depressão, comportamentos inadequados e somatizações. Estes sintomas são mais comuns do que se imagina.
Descrevi acima, resumidamente, o melhor cenário de uma separação conjugal, há outros ainda piores. No entanto, este conhecimento não nos leva à conscientização suficiente para mudar o destino de uma relação conflituosa. A fantasia narcísica de cada pessoa a faz pensar que conseguirá superar todas estas questões e que no fim tudo dará certo.
Então, como fazer esta conscientização, ao ponto de estancar este ciclo de casa/separa que cresce cada vez mais? Bem, se o homem estivesse atento ao limite da condição humana, por exemplo, de que é frágil sua forma de pensar, já que a cada dez anos pode estar pensando diferente; de que o futuro é uma caixa de surpresas e que pessoas mudam; e de que existe um vazio no coração humano e que, por isso, uma angústia precisa ser saciada; o casal refletiria sobre estes três grandes aspectos e conseguiria entender que quando duas pessoas concordam em viverem juntas são angústias que se somam, provocando conflitos. Desta forma, um, necessariamente, deverá ser o SUPORTE do outro, quando este estiver possuído por sua angústia e vice-versa. Sendo assim, quando se entra numa relação, sem a fantasia da felicidade eterna, mas com a consciência de ser SUPORTE do outro, a probabilidade deste encontro ser mais prazeroso é potencializada e ambos crescem juntos. É refletindo no humano que sou e no humano que o outro também é, que me dá as condições de quebrar este tal ciclo a que esta mãe se refere. Veja que essa reflexão faz sentido, pois anos após uma separação conjugal ouvimos frases do tipo: “se eu soubesse o que sei hoje não me separaria”, ou como esta mãe comentou: “…troquei o meu sofrimento pelo dela.”
Mas atenção! Faça a leitura correta, por favor, e não aplique este entendimento em outro contexto, como por exemplo: violência doméstica, casos de abuso, assédio, abandono do lar e coisas assim.
Perfeito, como sempre está de parabéns
O que não podemos esquecer que nada está perdido e podemos mudar qualquer história, vamos respeitar, amar e mostrar para os nossos filhos tem situações que não conseguimos evitar o divorcio ( violência domestica) eles sempre serão os nossos filhos, que a dor deles é a nossa e se pudéssemos voltar faríamos tudo diferente. Que Deus continue te abençoando e nós ajudando a superar e reconhecer os nossos erros.
Uma excelente reflexão!
Sempre que posso aproveito circunstâncias cotidianas para além de falar, demostrar aos meus filhos, que devemos ser conscientes, sentimentos não podem nos guiar, nossas emoções são péssimas conselheiras, e quando agimos uns com os outros da maneira que gostaríamos de ser tratados, plantamos a semente do respeito e reciprocidade. Vale para todos os tipos de relacionamentos… 🙂