Dentro da categoria casal, foi-me sugerido trazer uma reflexão para os pais, que sofrem a perda dos filhos, não porque morreram, mas porque seguiram suas vidas, casaram e foram embora, ou simplesmente mudaram de casa por terem se emancipado. O nome técnico é Síndrome do Ninho Vazio. Seus sintomas principais podem ser listados como depressão, melancolia, distúrbios do sono, dentre outros.
Quando os filhos nascem, uma missão é entregue ao casal. É que os filhos dos humanos não nascem prontos para a vida. Pelo contrário, na natureza, é a cria mais dependente dentre todas as espécies de seres vivos do planeta. Um filhote de cachorro, após ter sido desmamado, pode ser doado e criado longe de seus progenitores, sem nenhum prejuízo. Quase todos no reino animal seguem esta rotina. No entanto, os humanos, ao nascer, ainda têm uma longa caminhada até à independência. Dependendo da cultura onde nasceu, sua independência virá entre dezoito e trinta anos, isto para falar apenas de famílias saudáveis.
Os pais por sua vez, diante do desabrochar da nova vida que surge com a chegada do bebê são absorvidos de tal forma que, muitas vezes, perdem a noção de que o período de criação de filhos ocupará, aproximadamente, 25% de sua vida, considerando a expectativa de vida em 80 anos. Sendo assim se esquecem de responder à pergunta: “O que eu vou ser quando eles crescerem?”
Sem uma reflexão honesta sobre esta pergunta, sem um projeto de vida além dos filhos, quando eles se vão a alegria da “missão cumprida” dá lugar a um vazio existencial, uma tristeza incomum, que não passa por nada, ou, muitas vezes, os pais são levados a um comportamento inadequado na expectativa de manter algum tipo de influência na vida dos filhos, pois o medo que os filhos cometam erros na vida acende uma “luz” de alerta no “painel de controle da consciência” dos pais, fazendo com que estes tentem continuar participando da vida dos filhos, que já se foram, mais do que devem, tirando-lhes a liberdade de aprenderem com seus próprios erros.
Para se responder à pergunta título desse texto, é necessário que se comece refletindo desde muito cedo sobre o tema, pois está em jogo um planejamento para os muitos anos que os pais ainda têm pela frente pós saída dos filhos. É muito tempo para se viver improdutivamente, sem um projeto, sem um sonho. Existem aqueles que pensam em viajar, passear bastante, viver na praia. Ora, isto são desejos e não projetos. Desejos podem ser saciados entre um projeto e outro. Já projetos são construções que pontuam uma vida, são divisores de águas, são possibilidades de ascensão. Quando os pais têm projetos para esta nova fase não se sentem estagnados, muito pelo contrário, sentem-se animados por estarem ingressando em algo novo.
Terminarei com uma ideia relacionada à frase de Marcos Piangers: “Se você não quiser criar filhos, não os tenha.” Mas, uma vez que você os tem, está na obrigação de se dedicar a esta divina tarefa, porém com a sabedoria de que existe um depois, que pode ser, até, muito melhor, caso você se prepare para esta nova empreitada.