62 – A PERCEPÇÃO E SEUS ENGANOS

Neste último final de semana passei por uma experiência incrível.  Sabe aquela coisa que você nunca imaginaria que faria na vida por considerar perigosa, desnecessária, não tem nada a ver comigo, definitivamente não ser a sua praia? Pois é, estive em Bonito-MS para um descanso de uma semana, visitando a natureza encantadora daquele lugar, passei momentos agradáveis em família.  No pacote do passeio estava incluído a visita ao Projeto Jibóia, um trabalho de conscientização e educação ambiental, “visando a diminuição da matança indiscriminada das serpentes na natureza”.   A palestra foi apresentada por Henrique Naufal.  No início, o palestrante, com muito bom humor, apresenta provocações à plateia, desafiando os espectadores a conseguirem sair daquele lugar sem fazer uma self com Rosinha, sua Jibóia de estimação.  Após uma hora de apresentação, sem nenhum constrangimento, todos fazem fila para serem fotografados com Rosinha, a jibóia, que esteve o tempo todo enrolada no pescoço do palestrante.  Até eu e minha esposa, que éramos completamente avessos àquela ideia bizarra reconhecemos que nosso medo era fruto de preconceito, cultura e desinformação.

Como esta experiência pode nos agregar valor?

O comportamento está diretamente relacionado à percepção que temos do meio onde estamos inseridos.  Por sua vez, nossa percepção depende da cultura em que fomos criados e pode ser alterada pelo conhecimento, quando o sujeito se permite a considerar novos aspectos que lhes são apresentados.  Foi o que aconteceu na referida palestra. Nesta linha, podemos refletir o quanto somos enganados por nossa própria percepção.  Em outras palavras, somente enxergamos o que nossa percepção nos permite.  Por isso se dizer que o conhecimento é libertador e está sempre nos levando a um outro nível de entendimento daquilo que nos cerca.

Trazendo para o contexto da criação de filhos, que é o tema central de meu blog, posso afirmar que o que falta efetivamente aos pais é conhecimento sobre suas funções enquanto pai e mãe.  Quando se cria um filho, também está se criando uma pequena parte do novo mundo, que o próprio filho viverá.

Quando falo em pequena parte, paradoxalmente, compreendo a gigantesca importância do esforço realizado por cada família, para que esta pequena parte agregue valores ao novo mundo que ajudará a formar.

No entanto, vemos as sociedades, encabeçadas pelos grandes centros urbanos, produzindo cada vez mais o pior do ser humano no contexto de empatia, violência, autoestima, indiferença e frieza.  Talvez você não saiba, mas as pessoas não chegam ao meio social maravilhosas, bem resolvidas e, depois, adoecem, ou se desvirtuam por lá.  Pois ser empático, ser violento, ter uma autoestima seja baixa ou alta, ter indiferença e frieza são adquiridos em casa, heranças das primeiras vivências.  É  lógico que isso pode ser revertido, mas à custa de muito desgaste emocional, terapias, e coisas assim.

Em Eclesiastes, um dos livros escritos por Salomão, que se destacou por grande sabedoria entre os hebreus, já apontava para a importância do conhecimento: “Se o machado está embotado e ninguém o afia, é preciso redobrar a força; mas com sabedoria se obtém êxito.”  É justamente assim que vejo um grande número de pais em nossos dias, verdadeiros machados embotados, sem o conhecimento necessário de sua atuação enquanto pai/mãe.  Consequência disso: vivem estressados diante dos filhos adolescentes e suas reivindicações, ou diante de crianças que são descritas como ligadas em 220v.

Seriam mesmo o estresse e as dificuldades da infância e adolescência originadas nos próprios filhos? Ou na falta de conhecimento dos pais sobre criação de filhos?  Como uma criança de quatro anos, ou um adolescente de treze podem ter mais responsabilidade sobre o caos  em que se envolvem do que os pais com trinta e poucos anos de idade que os educam?

Precisamos ser honestos para responder estas perguntas.  Falta conhecimento nas famílias para melhorar este resultado, mas como disse Salomão, com o machado embotado precisará redobrar a força.  O esforço que as famílias novatas precisam empreender na criação de filhos é tão grande em nossos dias que, nos grandes centros urbanos, há mais de dez anos, está se formando uma fantasia de que é mais fácil criar apenas um filho.  Qualquer dia deste demonstrarei que criar três crianças é mais fácil e vantajoso na maioria dos cenários que possam ser apresentados.

Enfim falta conhecimento sobre o tema criação de filhos.

Assim como minha ignorância sobre serpentes se dissipou em uma palestra sobre educação ambiental, alterando minha percepção sobre o assunto, desmistificando o tema, faço votos que a busca pelo conhecimento sobre paternidade/maternidade também o guie pelo melhor caminho.

Até o próximo texto.

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