Esta é uma frase clássica: “Filho criado trabalho dobrado.” Geralmente é aplicada nos primeiros anos da adolescência, sobretudo quando o adolescente começa a “aprontar”. É um período em que muitos pais, há excessões, começam a ter muitas “dores de cabeça” com as questões que envolvem os filhos, pois enquanto pequenos, podiam até desobedecer, mas não tinham ainda dentro de si o despertar da força da puberdade a seu favor. É neste período que, quando as coisas começam a desandar, os pais percebem a necessidade de ajuda externa à família. Sendo assim, implementam leituras sobre o tema, buscam livros, aconselhamentos, psicólogos e etc. Geralmente se perguntam: “Onde foi que eu errei?” Como se não soubessem.
Quando anuncio uma palestra para pais sobre filhos, geralmente muitos pais de adolescentes comparecem. A proporção é meio a meio. Eu começo no ano zero da criança, apresento as fases do desenvolvimento à luz da psicanálise, pontuando o desenvolvimento da libido, o que está “em jogo” nestas fases psicossexuais, a saber, oral, anal, fálica e genital. Apresento também os períodos críticos, descritos por Erik Erikson, também psicanalista, que pontuou o desenvolvimento à luz das relações sociais. De fato é uma palestra extremamente técnica, mas que ensina, em teoria, o passo a passo da construção do funcionamento do ser humano, ou seja, a personalidade. Que, diga-se de passagem, está completa lá pelos seus sete anos, aproximadamente. Fica claro que este conhecimento impacta todos os pais, pois quem está com os filhos ainda nas primeiras fases, desperta para o senso de missão e os pais que estão com os filhos na adolescência, ficam ansiosos para ouvir a última parte da palestra que é a adolescência. É neste momento que alguns ficam desapontados, pois ao contrário das fases iniciais, onde é pontuado o que ainda vai acontecer no contexto do desenvolvimento da criança, quando chago na adolescência, apesar de importante, muito menos existe para acontecer no desenvolvimento, que dependa da atuação dos pais. O adolescente é igual ao balão que venceu a força da gravidade e conseguiu subir sozinho. Já existe uma personalidade formada, que partirá em busca de sua identidade no mundo, pois a primeira que recebeu da família é provisória. Para isso é saudável que apresente seus questionamentos e ideias, que vá atrás de coisas que nem sempre são razoáveis, às vezes, até proibidas, ou impróprias, talvez irresponsáveis, desafiadoras,… Pois nesta fase é impossível, aos olhos adolescentes, conhecer o mundo sem experimentá-lo por si mesmos. No entanto precisam dos pais, sim. Tal como os rios precisam de suas margens, que apontam a direção do fluxo d’ agua, adolescentes precisam dos pais, que precisam entender que neste momento sua obra prima, o filho, está em fase de acabamento e não mais em fase de fundação. É neste momento que a decepção se instaura nos pais que ainda nutriam uma esperança de mudar o filho, que dá “trabalho dobrado.”
O caminho mais adequado, neste momento, não é tentar mudar o filho, que dá “trabalho dobrado”, mas entender que se os pais não implementarem uma mudança em si mesmos, perderão os filhos para sempre. Muitas vezes a solução não é enviar o filho para o psicólogo, mas se colocar na condição daquele que precisar fazer mudanças em si, para entender o outro.
Há solução para o filho que dá “trabalho dobrado”, no entanto esta mudança não começa nele, mas nos próprios pais.