61 – ISOLAMENTO SOCIAL E ANSIEDADE

Bem, o vírus mudou a vida de todos, inclusive a das crianças. O vírus as colocou confinadas em casa, pois a escola está fechada. Tirou as do parquinho, pracinha, do play, já que os brinquedos de uso coletivo estão sob suspeita de contaminação. As crianças foram proibidas de verem os avós, para que eles não sejam infectados pelos netos assintomáticos. Por conta do vírus, as queridas babás foram dispensadas, uma vez que o vai e vem das babás, no transporte coletivo, soa como uma ameaça de contágio na casa dos patrões. Enfim, agora, as crianças estão em casa com os pais, com a família nuclear.

Com mais tempo em casa, precisam de pais mais habilidosos para mantê-las fora do alcance dos efeitos perniciosos da ansiedade, bem como da depressão, já que estas duas, geralmente, andam juntas.  No entanto, já temos pais pedindo socorro, já temos crianças estressadas e com raiva do “colonavíus”. Dessa forma, o que fazer para diminuir toda esta ansiedade que se instaurou no ar?

Em primeiro lugar precisamos saber o que exatamente é ansiedade, pois não há como se defender do inimigo que não se conhece, vide o problema do próprio coronavírus, enquanto os cientistas não descobrem como o vírus funciona não há remédio que dê jeito, ficam no ensaio-erro até achar uma resposta.  Felizmente a ansiedade já é bem conhecida dos profissionais da área de saúde (DSM-V F41.1), fartamente descrita em vários trabalhos acadêmicos.  Em linhas gerais é uma preocupação desproporcional à probabilidade de um evento ou consequência deste acontecer.  É um excesso de preocupação.  Em crianças pode se constatar o quadro ansioso com apenas um destes sintomas: inquietação, fadiga, dificuldade para se concentrar (o famoso “deu um branco”),  irritabilidade, tensão muscular, perturbação do sono.

Conhecido quem é nosso inimigo, ansiedade, como podemos combatê-la?

Combater a ansiedade não é difícil, talvez por isso mesmo muitos não levem fé, porém o simples fato de haver uma rotina já contribui para tirar o sujeito, seja criança ou adulto, do estado de ansiedade.  A rotina acrescenta à vida a previsibilidade dos acontecimentos, diminuindo algumas preocupações.  Fica mais fácil quando se fala em exemplo:  O recém nascido, tem o choro como a forma de comunicar tudo em sua vida, se é fome, dor, ou incômodo, será chorando que ele se comunicará.   Com o tempo, as mamadas vão ficando cada vez mais espaçadas, até virarem refeições.  A rotina das refeições bem marcadas, ou seja, o horário da refeição matinal, almoço, lanchinho e janta, sempre nos mesmos horários, possibilita que o bebê aguarde até a hora da refeição sem sentir a incerteza de sua concretização, já que todos os dias as refeições ocorrem no horário previsto.  Mas se as refeições não seguem um curso regular, como a criança poderá entender que à noite ela vira também?  Sendo assim, a FALTA DE ROTINA nas refeições, nos atos de asseio do bebê, no padrão hora de dormir e acordar, contribuem para a criação de um estado ansioso de funcionamento daquela criança. Nesse caso, sempre estará preocupada com o que vem, pois aprenderá muito cedo que às vezes pode não vir.  Nesta linha, crianças em casa precisam de rotina, para fugir do quadro ansioso.

Também contribuem, grandiosamente, neste período de isolamento social, as tarefas diárias, bem divididas entre os integrantes da casa, inclusive, entre as crianças: forrar a cama ao acordar, a limpeza da casa, ajudar na cozinha (para crianças maiores), levar o pet para fazer as necessidades, ajudar em uma tarefa do pai ou da mãe, etc.  Tarefas mantém a atenção voltada para a sua própria realização, que também é um excelente remédio para combater a ansiedade.  Sem uma atividade que te faça perceber sua utilidade dentro de casa, a mente fica procurando “o que não se sabe”, ajudando pensamentos ansiosos a ganharem forma.

Não podemos esquecer que exercício físico faz parte de uma vida saudável para qualquer um, portanto também entra como técnica para manter o ambiente em casa saudável, longe de ansiedade.  O adulto pode promover brincadeiras, que ao mesmo tempo coloquem a criança para se movimentar.

Por fim, deve-se promover a atividade criativa, uma atividade que mexa com o espírito criativo das crianças, podendo envolver pintura com tinta guache, desenhos, montagem de papel, origame, trabalhos de colagem, modelagem e etc.

Passar o isolamento e distanciamento social de forma organizada, nas questões que pontuei, evitará o tédio de estar “preso” dentro de casa, como também diminuirá bastante o comportamento ansioso.  Os pais precisam entender que o dia saudável de cada criança depende não só de sua presença como também da qualidade desta presença.  Ou seja, não é só ficar em casa, mas atuar de forma qualitativa junto à criança.

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