Quero introduzir este texto advogando a necessidade de que este assunto, infância, ganhe o foco da grande mídia e esteja em discussão nos espaços apropriados para tal e, principalmente, no contexto familiar. Quem passa na Av. Brasil, aqui no Rio de Janeiro, na imediação da “Cracolândia” tem uma visão deprimente do estado a que pode chegar o ser humano. Ali tem gente de diversas procedências, inclusive, aqueles que, um dia, foram bebês fofinhos e cheirosos no colo de suas mães. Quem passa na subida das comunidades aqui do Rio de Janeiro, sendo um bom observador, notará a presença de adolescentes olheiros do tráfico de drogas. Provável que alguns pais desses meninos não tenham idealizado um futuro assim para seus filhos. Se observarmos as famílias de classe média, não será difícil perceber o quanto pais e filhos estão distantes. Na infância muitos destes bebês foram cuidados por babás sob a “supervisão” dos responsáveis e, na adolescência, foram precocemente emancipados para mandar em seus narizes. Se visitarmos a rotina de unidades hospitalares, sejam públicas ou privadas, conheceremos várias histórias trágicas envolvendo jovens, inclusive, aquelas de tentativa de suicídio. Alguns colegas, que observam o comportamento humano, colocam este caos social na conta do desenvolvimento humano, mas eu descordo com a terminologia utilizada e chamo isso de degeneração social.
Por isso minha insistência em falar da importância da família na infância. Família são células sociais indispensáveis à formação do ser humano. A criança tem na família a primeira referência de sociedade de sua vida. Caso seja acolhida por pais ou cuidadores “suficientemente bons”, parafraseando Winnicott, na fase adulta, devolverá para o ambiente social todos os investimentos afetivos positivos que recebeu. O contrário também será verdadeiro, se elas receberem menos afeto do que o suficiente, mesmo que os responsáveis peçam desculpas e se justifiquem mais tarde, não mudará o que já foi formatado pelo tipo de relacionamento que experienciaram.
Com uma ilustração fica melhor explicada a importância de uma infância bem vivida. Comparo a infância a um bolo. Você sabe como se faz um bolo? Sim, lógico que sabe. Precisa dos ingredientes que constam na receita, mistura-se tudo, dentro de uma proporção e de certa ordem pré-estabelecida, leva-se ao forno por determinado tempo, espera-se esfriar e estará pronto para comer. Duvido que você descubra o que faltou mencionar no processo que descrevi, sim, porque é muito óbvio e, por isso, a maioria não dá muita importância. Mas te digo que sem o item que deixei de mencionar seria impossível fazer o bolo. A escolha da FORMA mais adequada.
Sem forma, sem bolo. A forma poderá ser redonda com ou sem furo, quadrada tipo tabuleiro, ou então num formato de coração. A forma conterá os ingredientes misturados limitando a massa. Quando o bolo for desenformado, estará livre da forma, mas assimilou o seu formato. A família, esta primeira sociedade que a criança encontrou, pode ser comparada a esta forma. A família deixa suas marcas nos filhos. Quem não conhece famílias que falam alto, extrovertidas, que gostam de festas, de adrenalina, que geraram filhos bem parecidos, apesar das exceções? Se a família for afetuosa, calorosa e atenciosa com seus membros, gozará das consequências deste “tempero” na idade adulta de seus filhos. Inclusive é o que tenho mostrado nesta série apresentada neste blog (INFÂNCIA – O QUE ESTÁ EM JOGO?). Em cada idade, um aspecto da personalidade está em jogo que formatará a criança por toda a vida. Quando chegar à adolescência, vivenciará as questões próprias desta fase em busca de sua identidade, porém trará os contornos da forma infantil estruturada pelas primeiras relações, que foram referências na família.
Então, sem um trabalho, suficientemente bom, no interior da família, desde a mais tenra idade, não poderemos esperar futuro melhor do que aquele que nós já estamos vivenciando. Fica meu apelo, procure conhecer sobre o assunto lendo os teóricos que basearam suas conclusões em pesquisas e não em ideologias pessoais.
Nasci no início da década de 60, nesta época, os movimentos sociais se levantavam abertamente contra a ditadura militar. Sobretudo no meio artístico, alavancados pelos músicos, com suas composições de protesto, surgiu o movimento Tropicália que apregoava, através de suas canções, ideologias para enfrentar o momento. Em 1968 Caetano Veloso cantou, junto com todo o pais a música “É Proibido Proibir” (apesar de hoje ele pensar diferente, segundo artigo digital da Revista Época -11/10/2013 por Ruth Aquino). Dizer não ao “não” era a ideologia de enfrentamento à ditadura militar da época. A questão é que esta música foi exaustivamente repetida por quase dez anos e a ideia lastrou para vários outros contextos da vida social, chegando às escolas, e a forma como os pais criavam os filhos da época. Meus pais, que adoravam proibir, faziam muitas críticas a ideologia de não poder dizer “não”. Por outro lado, muitos aderiram a ideologia de que o “não” fazia mal e isto mudou a forma como muitos pais conduziam as questões da infância. Hoje sofremos as consequências, em diversas áreas, da falta daquele “não” do passado. Este é um bom exemplo de consequências a partir de uma ideologia importada de um contexto para outro, no qual não se aplica adequadamente, tendo sido desconsiderado fundamentação teórica, pesquisa e dados estatísticos que o tema requeria.
Por isso insisto aos pais, que ao invés de se deixarem levar por ideologias sociais, que de tempos em tempos surgem alimentando diversos interesses, procurem se informar buscando o conhecimento daqueles autores que gastaram suas vidas em seu objeto de estudo, deixando um legado de pesquisas e conclusões. Lamento por aqueles que fazem da infância uma experiência social.
Boa noite!
Muito bom seu texto
Tantos bons textos que podem ser usadas no zap e as pessoas estao nem aí..
Parabéns.
Que o Senhor Jesus coloque ânimo continue te usando e abençoado rica e abundantemente.
Obrigado por seu comentário, a maioria dos meus textos falam sobre infância. Já é sabido entre os que se debruçam neste tema que uma sociedade melhor depende de uma família presente com pai e mãe cumprindo o seu papel e toda a constelação de parentes como coadjuvantes. Conto com cada um dos meus leitores para compartilhar em suas redes. Um Grande Abraço.
Um texto muito realista e atual. Educar um filho da trabalho e infelizmente muitos não conseguem ou não querem se dedicar e acabam aderindo e construindo a educação dos filhos em ideologias vigentes da época, o que como o senhor enfatizou no texto, sempre muda. Hoje em dia vemos o reflexo disso com absoluta clareza. Adultos que não foram criados nas ” formas” e hoje vivem sem nenhum tipo de limite ou completamente perdidos por não terem um formato de origem. Texto muito bom!
Obrigado por seu comentário, quando puder leia também o texto 12-Crianças e Regras, pois este assunto é por demais complexo, ou seja, apenas sua conscientização não é suficiente para criar adequadamente os filhos, fazendo-se necessário outros conhecimentos sobre o assunto. Um Grande Abraço.