Este é o tema da campanha lançada pela UNIPSICO RP. Um alerta aos pais que acham bonitinho ou acham que não tem nada a ver o incentivo ao namoro na infância.
Claro que os pais contestam daquela maneira bastante previsível: “Mas quem disse que eu incentivo meu filho a namorar? Na verdade, eu só estou brincando com ele”. Daí, revestidos da maior ingenuidade do mundo, os pais seguem brincando (incentivando, eu diria) com seus pequenos : Quem é seu namorado? Quem é mais bonita da escola, fulaninha ou beltraninha? Tirar fotos de um casalzinho de criança se beijando na boca virou coisa fofa. Esse comportamento dos pais já vem de longa data. A diferença é que lá atrás as crianças coravam de vergonha, faziam caretas e até choravam de raiva com a provocação. Só que hoje é diferente. E não é raro, nas festas de adultos, os aplausos à menininha que rebola até o chão e ao garotinho que sensualiza junto com a menininha. O mundo dos adultos cada vez mais se mistura ao mundo infantil. Não existem mais fronteiras. A mídia televisiva e de internet tratam de inserir as crianças nos dilemas na vida adulta sem censura ou restrições. Sabe aquela música de Luiz Gonzaga “toda menina que enjoa de boneca é sinal que o amor já chegou ao coração”? Pois é, aquela menina tinha 16, 17, 18 anos. Hoje tem 8, tem 9, tem 10 anos. Algumas meninas trocam precocemente as bonecas por smartphones. Outras sequer brincarão de bonecas. Com meninos não é diferente, antes dos 10 já flertam no whatsapp, vêem vídeos pornôs, trocam fotos de mulher pelada. Com todo esse cenário, pais de filhos pequenos deveriam, sim, se preocupar com o namoro infantil e não brincar (incentivar, de novo eu diria, rs) com o tema. E para os que verdadeiramente assumem o risco do namoro infantil, justificando que não vêem nada demais no relacionamento precoce de seus filhos, como psicólogo, eu apenas dizer CRIANÇA NÃO NAMORA não seria suficiente à coibição da prática. É preciso explicar os desdobramentos disso.
Então vamos lá! Vamos partir da noção mais básica de sociedade, o homem nasce com um complexo aparato de institutos inatos, que lhe proporciona comunicar as necessidades básicas de fome, dor, calor, e etc. Traz também uma herança genética, que não fará diferença alguma caso o meio não lhe seja propício ao desenvolvimento de tal habilidade. Um exemplo fácil de entender: alguns nasceram com dom para música. No entanto, é fundamental que alguém lhes apresente um instrumento musical para que descubram isso. Logo, o meio molda o comportamento individual. As expectativas construídas pela sociedade onde crescem as crianças acabam por ditar suas atitudes futuras. Eis aí o papel dos pais: apurar estas expectativas, filtrar e, por vezes, até calar tais expectativas quando forem nocivas ao desenvolvimento dos filhos. E por que a expectativa de que criança deve namorar é nociva?
Como já expliquei no texto CRIANDO MANIPULADORES, a personalidade se funda nas relações sociais. Bem, a construção da personalidade não se dá do dia para a noite. Portanto, apresento três linhas teóricas que explicam o desenvolvimento da personalidade humana: Freud, Erik Erikson e Piaget.
Não cabe aqui aprofundar as três teorias do desenvolvimento. Porém, em poucas palavras, vai ser possível entender que, segundo os teóricos do desenvolvimento de maior relevância, o incentivo ao namoro infantil não possui nenhuma base de sustentação que o justifique.
Freud entendeu o desenvolvimento humano em fases libidinais, onde em cada fase a libido teria um foco diferente. Assim descreveu as fases oral, anal, fálica, um período de latência e a fase genital. A teoria de Freud é bastante controversa, mas não há como explicar todo o desenvolvimento humano subtraindo a teoria Freudiana. Segundo esta teoria o namoro é despertado na fase genital, ou seja, na puberdade. Exatamente quando a infância ficou para trás.
Erik Erikson entendeu o desenvolvimento humano a partir do pressuposto de que este era composto por “crises normativas”. Em cada uma destas crises, Erikson afirma que aspectos da personalidade estão em jogo, ou formação. O adulto saudável será aquele que conseguir passar à fase seguinte, tendo superado a crise anterior. Para Erikson o namoro ficaria localizado no final da quinta crise, quando está em jogo o “nascimento de uma nova identidade” que acompanhará o jovem pela vida adulta.
Diferente de Freud e Erikson, que enxergaram o desenvolvimento humano a partir de aspectos da personalidade, Piaget o fez a partir da cognição e deixou sua contribuição afirmando que o desenvolvimento humano passa por períodos que se sucedem um após o outro: Sensório Motor, Pré-Operatório, Operatório Concreto e Operatório Formal. Aliás, fica aqui o apelo para que os pais leiam Piaget e identifiquem em que período seu filho se encontra. Para Piaget, não há como conceber a ideia do namoro antes do Período Operatório Formal. Pois somente aqui o ser humano estará apto a pensar sobre conceitos abstratos e hipotéticos como é o amor.
O que é comum nestes três teóricos, Freud, Erikson e Piaget é que, seja o desenvolvimento humano compreendido em Fases, Crises Normativas ou Períodos, todos respeitam a cronologia da maturação, a qual capacita o indivíduo à próxima etapa. Neste sentido, não há engenharia social que antecipe nada sem produzir resultado inadequado.
Ainda que sob um olhar mais leigo, é possível observar a natureza e sua cronologia. Desde que o mundo é mundo, a natureza respeita tempos e épocas. Podemos esperar que uma fruta madura seja saborosa. Já uma fruta verde… Igualmente, namorar tem o tempo certo de acontecer. Requer maturação para que seja uma experiência gostosa e enriquecedora.
Então gente, CRIANÇA NÃO NAMORA. Definitivamente, CRIANÇA NÃO NAMORA.
Mais um texto brilhante que nos alerta e ensina em dias tão tenebrosos pra nossa sociedade.