Quando me proponho a falar sobre adolescentes, não estou focando nesse ou naquele adolescente especificamente, mas, de uma forma genérica, abordo as questões que envolvem esta fase tão difícil da jornada humana. Logo, nem tudo que digo aqui se aplica a todos os adolescentes da face da terra, pois quem não sabe que o ser humano é único? Mesmo que reconheçamos um padrão de comportamento e sentimento próprio dos adolescentes, não haveria como padronizar a subjetividade de cada um deles.
Por outro lado, há atitudes que os pais podem ter que, de maneira geral, seriam muito benéficas na fase da adolescência dos filhos. Para começar, os pais acertariam muito se conseguissem reconhecer que os filhos cresceram, não são mais crianças, e que, por isso, gostariam de ser tratados como pessoas mais maduras. Tratar como criança aquele que já não se enxerga mais assim é no mínimo constrangedor e lhe diminui a auto-estima. Eu sei que para a maioria dos pais os filhos nunca crescem, mas os pais não precisam dizer isso para todo mundo, tampouco para o filho nesta fase. Tudo o que o adolescente deseja, neste momento, é ser reconhecido como sujeito, diferenciado dos pais, com ideias próprias e capacitado para fazer escolhas e tomar decisões.
Quando digo “ideias próprias e capacitado para fazer escolhas” não estou dizendo com isso que os pais devam concordar com tudo, com receio de desagradarem os filhos. A questão é: se precisarem mostrar reprovação, que seja com reflexão, com mais sutileza, usando o diálogo e nunca antes de ter deixado o filho expor todo seu ponto de vista. É o momento de gastar tempo neste diálogo, mostrar que você se importa com a opinião dele, porém sem abrir mão de mostrar o que pensa sobre o assunto e como essa sua visão de pai ou mãe foi construída ao longo da sua experiência de vida. Se os pais tiverem sabedoria, não precisarão chegar ao extremo de “dar aquele soco na mesa” para colocar um ponto final na questão.
Os pais não devem minimizar as descobertas ou problemas dos jovens se colocando numa posição de sabichões com a frase “Eu já passei por isso.” Quando digo que os pais precisam expor a sua experiência de vida, não quero, em nenhuma hipótese, que seja entendido que a experiência do pai se sobrepõe a do filho como uma régua de medir. Para o filho, essa exposição unilateral dos pais não ajuda em nada. Aliás, dependendo da personalidade do jovem, pode soar até como um desafio e aquilo que era para conter uma atitude ou afastar uma determinada escolha diversa dos padrões paternos, acaba provocando um efeito contrário, podendo, inclusive, estimular a vontade pelo confronto.
Essa ideação de que os filhos nunca sabem de nada, se observarmos bem, vem sendo construída pelos pais desde antes, quando os filhos ainda eram bem pequenos. Então, é bem comum a rotina dos pais, naqueles afazeres diários, serem dissociadas da participação da prole. A mensagem de que os filhos não sabem fazer nada ou fazem errado a tarefa vai sendo transmitida ao longo do desenvolvimento deles. O desdobramento disto pode ter muitas variantes, mas a rebeldia e a baixa auto-estima são resultados bem previsíveis neste caso.
Por óbvio que é trabalhoso envolver os filhos em realizações que poderiam ser feitas pelos pais com pés das costas. Por vezes, se leva prejuízo de tempo e até dinheiro. Contudo, os pais precisam avaliar melhor o ganho secundário que existe quando os filhos estão participando diretamente das atividades e das decisões pertinentes à família. Essa prática de inclusão, além de trazer responsabilidade, disciplina, solidariedade, entre tantas outras virtudes, traz também uma percepção de pertencimento e de confiança entre pais e filhos, o que irá facilitar muito a convivência quando os filhos forem adolescentes.
Isso me faz lembrar o meu avô. Quando estava em casa, via-se rodeado pelos netos. O enorme quintal era o nosso laboratório de descobertas e criações. Ele sempre estava comigo e com meus irmãos (todos mais novos que eu) realizando uma ou outra tarefa. Havia uma ferramenta separada para cada um de nós. A gente se sentia parte de tudo que ele fazia, fosse na horta, na oficina ou no cuidado com os bichinhos criados no quintal. Bem verdade que a gente atrapalhava muito mais do que ajudava, mas nunca foi esse o objetivo dele. Hoje eu sei, ele não queria ajuda. Ele queria nos ensinar o mundo dos adultos. E Ele nos fez “ensaiar” esse mundo adulto por tantas e tantas vezes, que quando nos vimos nele de verdade, na adolescência, já não nos pareceu tão hostil ou monstruoso.
Ainda sobre esta construção de pareceria, tenho outro relato. Certa vez, no ambiente de uma oficina, vi um homem tratar o serviço do carro com o lanterneiro. O cliente estava acompanhado de seu filho que aparentava, aproximadamente, cinco anos. O garoto, ao lado do pai, ouvia a conversa dos dois. Mas foi quando o lanterneiro pediu que o homem desse uma puxadinha no carro à frente que aconteceu uma cena fantástica de relacionamento entre pai e filho. Para que o menino não saísse da calçada e se expusesse a algum risco na rua movimentada, o pai, enquanto andava com o carro meio metro à frente, de maneira brilhante, teve a seguinte ideia: pediu que a criança se concentrasse em segurar a árvore para que ela não caísse sobre o carro, enquanto ele levava o carro à frente. Funcionou muito bem! O menino, numa fase proativa da infância, sentiu-se o máximo, ajudando seu pai nos negócios da família. Segurou a árvore com força conforme fora orientado. O desfecho foi até cômico, porque o pai tornou a sair do carro e continuou a tratar com o lanterneiro, esquecendo-se de dar um fim à tarefa. O garotinho, muito colaborativo, gritou para o pai, com voz arrastada de quem está executando uma tarefa de grande esforço físico: __Paaaai já posso largar a árvore?
Um exemplo incrível de inclusão! Ao final, a participação da criança foi valorizada com o agradecimento do pai pela “árdua tarefa” realizada. A probabilidade desta criança vir a ser um adolescente diferente da média é muito grande, pois seu pai não demonstra medo de lhe delegar tarefas, tampouco de incluí-lo nas questões que precisam ser resolvidas no ambiente familiar. Além disso, o pai teve a sensibilidade de fazê-lo se sentir útil a partir de uma ação compatível com sua idade.
Finalizando, não é bom exagerar nas cobranças e não fazer cobrança alguma também não é bom. Nesse contexto, o exagero de limites traz estresse desnecessário e promove nos adolescentes sensações de incapacidade e inadequação. Tenhamos em mente: adolescentes precisam de amor com limites e, para se alcançar isto, os filhos devem crescer conhecendo as expectativas dos pais, sentir-se úteis na convivência familiar, ao mesmo tempo em que lhes é oferecido espaço para construirem as suas próprias expectativas. Fundamental lembrar que são as margens que apertam o rio e sem margens o rio nunca chegaria ao mar. Por outro lado, se as margens forem estreitas demais, o fluxo das águas fica comprometido, ou seja, o equilíbrio é a melhor opção para os melhores resultados.
Até o próximo texto.