Seria de grande ajuda aos pais, cuidadores e professores, o conhecimento de como se dá o desenvolvimento do psiquismo, o surgimento do EU, o que está em “jogo” em cada momento do desenvolvimento e a importância da participação parental no processo das primeiras identificações, as quais servirão de base para a formação da identidade, mais tarde, no final da adolescência. Vários autores se debruçaram em pesquisas para explicar este desenvolvimento, mas mesmo assim ainda existem questões em aberto. Portanto, nos limites de um texto curto como este e diante de um assunto tão abrangente, apresentarei a série que denominei INFÂNCIA – O QUE ESTÁ EM JOGO?. A séria é baseada no teórico do desenvolvimento humano Erik Erikson, psicanalista, que entendeu o desenvolvimento em oito etapas nomeadas por ele como CRISES NORMATIVAS. Desta forma, a cada crise um aspecto da personalidade será abordado. Entendamos que Erikson relaciona cada fase descrita por Freud (oral, anal, fálica, latência e genital) a uma crise psicossocial, com uma ressalva apenas na quarta fase – fase genital para Freud – e que será por Erikson subdividida em quatro partes. No entanto, ambos, Freud e Erikson, vêem na adolescência um momento crítico de integração das etapas vivenciadas na infância. Em outras palavras, os afetos vividos e os não vividos, as identificações, os eventos traumáticos, as memórias positivas e negativas, tudo isto se encontrará na mente adolescente e consolidará a identidade no jovem adulto. Acredito que alguns pais deixam para conhecer o tema adolescência, apenas, quando o filho já chegou nela. Bem, segundo os teóricos do desenvolvimento, a adolescência é a integração do que se vivenciou na infância. Então, seria muito mais saudável que as famílias, ainda na fase de gestação, se ocupassem no aprendizado das primeiras relações com o novo integrante que nascerá. Esta consciência precisa ser expandida, se desejarmos uma sociedade melhor no futuro.
Mas, vamos em frente. O que está em jogo assim que a criança nasce? A criança está na primeira CRISE NORMATIVA, ou seja, segundo Erikson, neste período, está em jogo a aquisição da CONFIANÇA BÁSICA, que será forjada na forma como o mundo a recebe, sobretudo, representado por sua mãe. Neste momento, as vivências são estruturadas através da boca, (lembre-se que estamos na “fase oral” de Freud), logo, a mãe, os seios que alimentam o bebê, A QUALIDADE DESTA OFERTA DE ALIMENTO, este conjunto precisa ser sentido como amor pelo novo integrante da família. A criança precisa se sentir bem-vinda, querida, desejada, a fim de construir a percepção de que o mundo é bom. A criança também desenvolve o sentimento de obter, como também de esperar que alguém lhe dê algo. É nessa certeza de que será atendida, que se estrutura a dimensão psicossocial da confiança, sua capacidade de ter fé, ser crédula, inclusive, de confiar em si mesma. E se confia que será atendida, poderá esperar com paciência nos momentos de necessidade. Como a mãe é a figura principal nos primeiros anos e durante toda a primeira infância, podemos afirmar que é na “maternagem qualitativa, organizada dentro de moldes que fazem sentido para a ideologia dos pais, que se dará à criança a certeza de contar com o alimento e o amor vindo dos provedores.” (Wagner R. Fiori).
Por outro lado, se este primeiro contato com a mãe e pai não é “suficientemente bom” (para usar o termo preferido de Winnicott, quando formulou a ideia de que os pais não precisam ser perfeitos, nem estar prontos, mas suficientemente bons no cuidado e atenção com os filhos), se os pais não comunicarem em palavras e gestos seu afeto incondicional, se a mãe não ofertar os seios com o prazer no momento em que vai suprir as necessidades da criança, o bebê se sentirá abandonado a sua própria sorte e a resolução do primeiro conflito que se estabelece, segundo Erikson, Confiança Básica x Desconfiança Básica, ao invés de produzir esperança de que o mundo é bom, produzirá a percepção de que está sozinho no mundo.
Mais especificamente, é na relação com a mãe, ou com quem a substitui, que serão construídas as bases para as futuras relações sociais. Com um exemplo fica melhor de entender: esta etapa compreende do nascimento até 18 meses, aproximadamente. O bebê chora quando quer mamar, quando está com dor, dentre outros desconfortos, e a resposta a esta necessidade precisa ser suficientemente boa para que o bebê crie a esperança de que, ainda que demore, será atendido. É desta maneira também que, respeitando o relógio maturacional, o bebê começará a aprender que objetos e pessoas existem e é possível desejá-los e esperar por eles.
Como é a fase em que se inaugura o apego, o bebê NÃO deve mudar de cuidador. Preferencialmente, a mãe deve ser a protagonista do protótipo das primeiras relações com o mundo.
Sei que você deve estar pensando naquelas mães que precisam trabalhar fora e o melhor que puderam fazer ficou na conta de quatro meses de licença maternidade apenas. Esta é a cruz que nos impõe as circunstâncias da vida moderna. Responder a esta questão não é fácil, talvez para cada caso, individualmente, coubesse uma resposta, no entanto, em todas as respostas deveria se levar em conta a QUALIDADE AFETIVA DA PRESENÇA DESTA MÃE. A criatividade pode ajudar esta mãe a conseguir um trabalho com carga horária reduzida, ou até mesmo formas de ganhar dinheiro em casa. Uma avó que more nas redondezas pode ser uma possibilidade a ser considerada.
Mas o importante mesmo é que vocês, que vivem a recém paternidade, procurem adequar sua rotina da melhor maneira possível, mesmo em condições adversas, para que seu bebê consiga passar bem por esta CRISE NORMATIVA, onde o melhor resultado esperado é a capacidade de ele enxergar a vida com confiança e credulidade.