20 – SAÚDE EMOCIONAL

Entender o adoecimento a partir de três fases (disfunção, lesão e destruição), como fizemos nos textos anteriores, é meramente uma questão didática, pois só podemos evitar que algo aconteça quando temos consciência de todo o  processo.  Vejamos, por exemplo, as etapas que se cumprem até o bebê andar. O bebê primeiro engatinha, depois fica de pé e em um terceiro momento anda livremente.  Os pais, em princípio, pensam ter uma noção clara desses três estágios. Contudo, muitas vezes, não estão bem conscientes dos pormenores que envolvem todo o processo.  Eu fui pai bem jovem e vi meu primeiro filho atravessar estas etapas.  Daniel havia chegado à fase em que se fica de pé, apoiando nas coisas. Dava aqueles passinhos curtos, segurando no sofá, nas cadeiras e nas nossas mãos.

Eu e minha esposa sabíamos que tudo estava em ordem, sentou e engatinhou como todas as crianças normais e, agora, treinava andar. Haveria de demorar um pouco até que andasse livremente, afinal, parecia desequilibrado e inseguro nos seus primeiros passos, sempre carecendo de ajuda.  Eu e minha esposa não tínhamos consciência do processo. Desconhecíamos que  a criança, quando  consegue sustentar o corpo nos próprios pés, a qualquer momento, andará sozinha. Isso ocorrerá em um estalar de dedos, num piscar de olhos. Em um belo dia, Daniel,  estava sentado no corredor da casa, no chão, distraído com seus brinquedos.  A porta da sala estava entreaberta. Minha esposa havia descido as escadas e subiria em seguida. Morávamos no segundo piso.  Quando vimos, ele rolou escada abaixo. Daniel viu a mãe sair pela porta e andou livremente atrás dela. Se tivéssemos consciência que seria assim, tão de repente, teríamos mantido a porta fechada, teríamos sido mais cautelosos. O que sobrou no final do dia foi a perplexidade da frase: “mas ele mal ficava de pé”. De igual modo, o recém nascido não costuma dar sinais de que está aprendendo a mover seu corpinho, até que um belo dia se vira e, do nada, cai da cama. Nessa mesma linha, ocorre com o adoecimento.  Evitar o adoecimento é ter consciência do processo que leva o sujeito ao quadro patológico, lembrando que o processo se  inicia muito antes de a doença poder ser diagnosticada por exames.

Já vimos que aspectos relacionados a estilo de vida (sedentarismo/exercício físico, alimentação, vida laboral, vida espiritual, relacionamentos, dentre outros) são fatores que inibem ou podem funcionar como precipitastes do adoecimento.

Certa vez, conversando sobre o falecimento de um amigo, que morrera de enfarto fulminante ainda aos quarenta anos, ouvi  um dos que estavam na conversa dizer assim: ele cuidava tanto da saúde, ía sempre ao cardiologista!

Bem, será que ter um cardiologista é mesmo cuidar da saúde? Fazer check up acaso é cuidar da saúde? O check up apenas pontua como estamos,  ou seja, se estamos fora da doença, ou já dentro dela.

Quem cuida da saúde em detrimento da doença não é, exatamente, quem vai ao médico. Em minha opinião, quem cuida da saúde, além de cuidar da vida emocional/espiritual também faz exercício físico, frequenta o consultório do nutricionista para se alimentar equilibradamente, não tem medo de subir na balança para aferir o peso, dorme o suficiente para suas necessidades, não fuma, não bebe e nem usa drogas.  Acredito que tais cuidados são muito diferentes de teracesso ao celular de um médico e/ou fazer exames de rotina.

Foquemos agora aqui no cuidado com a vida emocional. O significado que damos aos eventos, muitas vezes gera tensão emocional, que através de um complexo processo bioquímico faz com que o organismo perca sua condição homeostática, vivenciando um total desequilíbrio em suas funções, inclusive, deprimindo o sistema imune, que, nesta condição, se rende ao agente patógeno.  De igual modo, as dissonâncias cognitivas (quando aquilo que faço é incompatível com aquilo que acredito), após prolongado conflito interior, geralmente sentido como uma ausência de paz, um incômodo na alma, também são depressores do sistema imune, abrindo as portas do organismo para diversas enfermidades.

Nesse sentido, do ponto de vista apenas emocional, cuidar da saúde é reconhecer os momentos de tensão emocional e não permitir que suas consequências (mal humor, tristeza, decepção, raiva, desejos negativos inconfessáveis, dentro outros) sigam adiante, ditando o tom das relações do homem com o mundo e consigo mesmo. Importa lembrar que, não poucas vezes, disfarçamos o que sentimos via  mecanismos de defesa freudianos, como, por exemplo, a negação. Valer-se destes mecanismos não resolve nada. Ao contrário, acentua o desequilíbrio.

Logo, cuidar da saúde não é nada tão simples para o homem moderno, especialmente no que se refere aos problemas emocionais, cujo diagnóstico demanda uma olhar criterioso e especializado. Cuidar da saúde, então, é, antes de tudo, cuidar das emoções e reconhecer no corpo os processos de adoecimento para, ao menor sinal/sintoma, procurar ajuda, evitando que um eventual processo disfuncional progrida, tornando-se uma lesão e, na sequência, evolua para a destruição do organismo.

Para finalizar, penso ser oportuno deixar aqui um ditado conhecido da maioria de nós  e por vezes tão negligenciado: quem não tem tempo para cuidar da saúde, haverá de ter tempo para ficar doente.

1 thoughts on “20 – SAÚDE EMOCIONAL

  1. Marta Barcelos says:

    Bom dia!
    Muito bom o texto!!! Somos o resultaldo de como escolhemos viver. Nossas emoções bem trabalhadas e tratadas, fazem a diferença no nosso corpo físico. Ser resiliente diante das situações que nos assolam, nos faz bem mais forte. Ainda aprendendo…

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