24 – O BEBÊ E A MAMADEIRA

Em continuação ao artigo 23, que faz parte da Série: INFÂNCIA – O QUE ESTÁ EM JOGO?

No último artigo, apresentei um exemplo da falta de conhecimento que paira sobre o assunto amamentação. Aqui, sigo na mesma temática, mas desta vez trazendo a questão das crianças, que, por algum motivo, não puderam mamar no peito de sua mãe e foram alimentadas artificialmente com mamadeiras. Não há dúvidas de que o modo natural (peito) é a melhor opção para criança, no entanto, em psicologia, há sempre a questão da subjetividade, que transforma aquilo que não é totalmente verdadeiro na mais pura verdade. Nesse contexto, há quem levante controvérsia à questão, entendendo que, em certas circunstâncias, a mamadeira pode ser mais benéfica, eficiente ou ideal.

Deixando esta discussão para trás e partindo do pressuposto de que há muitas variáveis envolvendo o tema, chegamos à situação concreta de algumas mamães que já amamentam seus bebês com mamadeira. Então, falaremos aqui desta forma de amamentar. Como foi visto no texto anterior, pouco valor, ou valor algum há quando a mãe não percebe a sagrada missão de alimentar seu filho e o faz de qualquer jeito. Citei o caso concreto da mãe que amamentava enquanto fazia compras no supermercado. A criança estava no colo, agarrada ao peito e a mãe com a outra mão, sacando os produtos das prateleiras. Poderia citar, também, aquelas que estão sentadas, comodamente numa poltrona dentro de casa, mas ao invés de focar no bebê, no prazer deste momento, transmitindo-lhe satisfação e significados positivos, está com os olhos perdidos no celular, surfando na internet, enquanto a amamentação no peito está rodando em segundo plano.  O mesmo vale para qualquer outra distração, do tipo televisão, conversas paralelas que se destacam mais do que o próprio ato de amamentar.  O que faz a diferença no psiquismo infantil em formação é a qualidade deste momento, o afeto dele apreendido e não o simples fato da criança estar literalmente ligada à mãe. Esta ligação precisa extrapolar a materialidade e se tornar psíquica. (no texto 22 explicou melhor esta relação).

Seguindo esta linha, crianças amamentadas com mamadeiras, se forem envolvidas com os cuidados da maternagem de qualidade, se sentirão acolhidas, cuidadas, principalmente se houver regularidade no horário entre uma mamada e outra. Sentirão a presença  qualitativa dos cuidados maternos. Na hora de alimentar, a mãe  faz questão de pegar o bebê no colo com afago, transmitindo-lhe segurança, conversa com o bebê em tom baixo e doce, segura a mamadeira na posição mais confortável possível, sem se distrair com qualquer outra coisa, direcionando sua atenção com exclusividade ao bebê.  Assim, a mamadeira, longe de ser a melhor opção, pode ser uma substituta do peito sem prejuízo para o desenvolvimento psíquico da criança, desde que as mamães compensem a ausência do peito com a maternagem de qualidade.

Bom lembrar que, nesta fase, entre zero e dezoito meses, não é só a amamentação que está em cena. Existe o período entre uma mamada e outra. Igualmente importante, neste período, a mãe também aparece diante do bebê como a provedora de todas as necessidades físicas de segurança, de higiene, calor humano,  a defensora de todas as situações imprevisíveis. Toda esta atenção em conjunto com a amamentação suficientemente boa, como já falei anteriormente, não serão lembradas pelos bebês na vida adulta, mas os sentimentos que os bebês levarão desta fase os acompanharão por toda a vida. É nessa fase que eles formam o primeiro vínculo afetivo de confiança que será base para as demais relações sociais, segundo a psicanálise. 

Voltando à amamentação, ao invés de sentir-se culpada por não ter conseguido amamentar o filho com o peito, a mãe deve empenhar-se em fazer com que sua presença e carinho sejam notados a cada mamada, de maneira que o bebê sinta prazer de estar ali diante daquela mamadeira. Afinal, seu bebê é capaz de sentir que por trás daquele objeto inanimado existe um coração cheio de amor, um colo quente e seguro, e um desejo vívido e pujante de bem querer. Concluo assim este texto: amamentar é um ato de afeto , mas não é o único. Sinta-se bem consigo mesma e  faça seu bebê se sentir bem com todas as outras atitudes de cuidado que você pode oferecer a ele.

Até a  próxima semana com mais um texto da Série INFÂNCIA – O QUE ESTÁ EM JOGO?

4 thoughts on “24 – O BEBÊ E A MAMADEIRA

  1. Diogo says:

    Boa noite! Não sei se pretende falar sobre o assunto futuramente mas gostaria de ler sobre casais divorciados com filha em específico sexo feminino. Obrigado

    • Alvaro says:

      Oi Diogo, de fato este tema é bastante relevante e está em minha pauta. No entanto, neste momento estou preparando um curso para pais, que será lançado ainda este ano na internet. Como o tema é muito vasto coloquei foco na primeira e segunda infância/adolescência. Não abordo, especificamente, a questão de pais separados neste curso, mas eu tenho respondido as dúvidas dos meus leitores sobre diversos assuntos.
      O que eu posso te dizer, como ideia básica numa separação conjugal, é que se os pais e mães não fizerem alienação parental, os filhos, meninos ou meninas terão um prejuízo menor. Se o casal não discutir a relação na frente dos filhos, o prejuízo diminui também.
      Se os novos relacionamentos dos divorciados, tanto você, como sua ex-esposa levarem em consideração que existem crianças inocentes afetivamente envolvidas o prejuízo também é menor.
      Estas ideias são básicas, genéricas. Para ser mais específico preciso da idade da criança, pois em cada faixa etária a criança está em determinada fase do desenvolvimento e por isso vive esta questão de forma diferente.
      Imagino que você tenha alguma pergunta específica. Se você desejar fazê-la, acredito que posso te ajudar.
      Fico no aguardo.
      Um Grande abraço

  2. Moisés says:

    Muito bom esse texto, informativo e esclarecedor.
    Se torna com mais relevância quando se trata do ser humano em construção e de sua base inicial na fase da amamentação.
    Falo com base em seu texto, pois nunca pensei em tal assunto.
    Creio que muitos erros cometidos nas gerações passadas por falta de conhecimentos não poderão ser corrigidos, mas agora com base nesses estudos poderemos orientar e ensinar as gerações do presente e as futuras gerações.
    Só assim poderá ser corrigido um ponto essencial no psicológico de um futuro ser que prá viver bem em sociedade é preciso receber essa atenção da mãe seja com mamadeira ou na forma natural, o que vai fazer a diferença é a atenção centrada é o amor nesse momento tão privilegiado.

    • Alvaro says:

      Olá Moisés, obrigado por seu comentário. Gostaria de fazer uma observação importante já que você afirmou assim: “Creio que muitos erros cometidos nas gerações passadas por falta de conhecimentos não poderão ser corrigidos,” Cabe aqui uma correção, as pessoas como você diz, não cometeram ERROS, mas tiveram atitudes inadequadas que têm consequências. Não podem ser responsabilizadas pelo que não conheciam. Para isso existe psicoterapia, realizada por profissional devidamente habilitado, para tratar as consequências reconhecidas como desagradáveis, incapacitantes, imobilizadoras,… Um grande abraço e até o próximo texto.

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