CRIANDO MANIPULADORES

O título desde artigo, CRIANDO MANIPULADORES, nos remete a lembranças de pessoas que, talvez, gostaríamos de esquecer. Um manipulador é um ser que possui habilidades sociais capazes de nos fazer sentir culpa diante de situações, quando na verdade estamos diante de chantagens e mentiras descaradas.  Manipuladores mechem com sentimentos alheios, fazendo com que suas vítimas se curvem as suas vontades, mimos e caprichos. Mesmo as pessoas mais inteligentes, dificilmente, conseguem perceber a farsa, quando estão na mira de um manipulador.  É como se a vontade, limites e direitos do outro não existissem. O manipulador alternará de um polo ao outro, sendo em alguns episódios extremamente educado, cordial; mas em outros episódios podem ser grosseiros e violentos.

       Vi um vídeo recentemente de nome: “Bebê Viciado em Celular” que me inspirou a escrever este artigo. Uma criança de 8 meses, aproximadamente, fazendo uma birra dramática, deixada ao chão em prantos, espalhando grande comoção e aparentando muito sofrimento. A mãe havia retirado de sua mão um aparelho de celular. No entanto quando o aparelho lhe foi entregue novamente, toda a “cena estética” se desmontou em fração de segundos.

       Os estudiosos do desenvolvimento humano postulam que o homem nasce com um aparato de sobrevivência inato, ou seja, choram para dizer que estão com fome, sede, frio, calor, dor; sugam diante do estímulo do seio materno.  Tais comportamentos não são ensinados, nem influenciados pela cultura. Mas em pouco tempo a criança reconhece a relação “poderosa” do choro com suas consequências e generaliza, testando esta relação em outros contextos.  Sendo assim ela percebe que, se chorar, o outro responderá com atenção para identificar o motivo do choro, que nesta altura do desenvolvimento, não está mais relacionado, apenas, a necessidades básicas, mas a desejos, vontades, curiosidades,… Até aqui, nenhum problema. A criança, simplesmente, descobriu como acessar a atenção de seus pais ou cuidadores, percebendo que seu choro mobiliza o outro a atender sua demanda.

       No entanto, nem todos os pais entendem que o processo de ensino-aprendizagem para a vida, começa do berço, na mais tenra idade.  Assim que as primeiras manifestações, daquilo que chamamos vontade própria começam aflorar, ou seja, quando crianças querem segurar objetos inofensivos ou cortantes e perigosos, estas também iniciam o aprendizado de como se relacionar com o outro. São crianças que já possuem a habilidade de conservação do objeto, aproximadamente do oitavo mês em diante segundo a teoria do desenvolvimento de Piaget, mesmo que o objeto seja escondido a criança já sabe que este existe e lhe foi retirado. Como ainda não domina palavras, usará o choro para alcançar seu objetivo, até aqui também não há nenhum problema.

       Neste momento e durante toda a infância, características de sua personalidade estão em desenvolvimento. Caso os pais, ou cuidadores, numa situação onde o NÃO seja a resposta ideal para o desejo infantil, se deixem levar pelo incômodo do choro, cedendo ao “questionamento” melancólico, às vezes engraçadinho ou com ar de coitado; sim, quando este NÃO é revogado em resposta a chantagem, pois o choro é completamente desprovida de argumentação; quando isto acontece, pais e cuidadores acabaram contribuindo para a instauração do comportamento manipulador. Certamente um repertório de comportamentos, tipo birra, passarão a fazer parte da relação familiar.  Se não fizer o que o “reizinho” deseja ele abre o bocão e como ninguém quer entristece-lo aceitarão o jogo da manipulação.

       É natural que a criança insista no choro por algum tempo, é a forma dela mostrar seu desejo e expressar sua tristeza, no entanto se o adulto responsavelmente mantiver firme sua posição de NÃO ceder: por causa do perigo, das consequências nocivas, etc. Contribuirá com a formação de um Ego resiliente, que se frustra, mas se reorganiza e supera tal tristeza, decepção, contrariedade.

       Reflita sobre a forma de interagir com sua criança, estando você no papel de pai, mãe ou cuidador e pergunte-se: – Estaria eu contribuindo para a formação de uma personalidade manipuladora?

2 thoughts on “CRIANDO MANIPULADORES

  1. Aline Munch says:

    Nossa, como me vi nesse texto.
    É assim que meu filho de 11 anos me manipula, quando digo não a ele, o mesmo diz que não o amo, que não me importo mas com ele e por aí vai.
    Acabo cedendo para que ele não se sinta rejeitado.

  2. Susan says:

    Muito interessante. Meu filho faz muita birra, mesmo não cedendo sua chantagem ele faz.
    Não cedendo acreditava estar no caminho certo, agora tenho certeza.
    Tenho aprendido muito com seus textos. Obrigada.

Deixe um comentário para Susan Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *