A complexidade do ser humano, suas questões emocionais e o vasto repertório comportamental fazem com que o sujeito seja impossível de ser explicado à luz de uma só teoria de desenvolvimento. Como eu já mencionei em outros textos, o desenvolvimento humano foi objeto de pesquisa de muitos estudiosos ao longo do tempo, dentre os quais estão nomes bastante conhecidos como Freud, Erik Erikson e Jean Piaget. No entanto, gostaria aqui de destacar Albert Bandura. Psicólogo canadense, analisou os fundamentos da aprendizagem em crianças e adultos, demonstrando que existe uma dialética entre indivíduos e ambiente. Ele observou que a aprendizagem humana depende de processos perceptuais e cognitivos. Em outras palavras, depende da observação de modelos atuando em determinado evento sem desconsiderar o ambiente.
À luz da teoria de Albert Bandura os filhos que nascem na família, célula mater da sociedade, apreenderão o mundo, primeiramente, através da observação dos modelos familiares. As crianças observam os adultos e como funciona o mundo social, observam também como elas mesmas funcionam dentro deste mundo. Ensaiam esta realidade em suas brincadeiras. É provável que você já tenha observado uma criança brincando de cozinha, ou de pentear suas bonecas ou construindo cidades e dirigindo automóveis. Na brincadeira, as crianças manifestam suas primeiras identificações com o mundo adulto.
Segundo esta teoria, fica notória a importância da família, já que esta é a primeira referência de sociedade, a primeira referência de relacionamentos e sentimentos. Logo, a fundação do ser humano, sua personalidade, suas preferências, seus medos, seus afetos são modelados no ambiente familiar.
Cabe citar o caso do Menino Vitor. Uma criança de aproximadamente doze anos que cresceu entre os animais na floresta de Aveyron. Nos finais do século XVIII, levado pela fome, era avistado nos arredores da cidade, sem roupas, andava trotando, farejava comida, roía os alimentos. Quando foi finalmente capturado, os médicos da época chegaram a conclusão que a criança foi abandonada, ou foi perdida de seus pais na floresta na mais tenra idade. Criada até então pelos lobos, não sabia falar, emitia sons do tipo grunidos, não demonstrava entendimento, não se reconhecia diante de um espelho. Após examinado por Philippe Pinel, pai da psiquiatria, foi diagnosticado como “acometido por idiotia”, sendo incapaz de receber socialização. Por fim, Jean Itard, médico assistente do Dr. Pinel, se interessou por educá-lo e tornou-se seu tutor. Apesar de seu esforço para que Vitor aprendesse a falar, o menino chegou a pronunciar, anos mais tarde, apenas poucas palavras. Jamais conseguiu formar frases. Aprendeu a se vestir e a comer à mesa, porém o longo período de isolamento social na fase da infância lhe deu limites para o resto de sua vida. Faleceu com aproximadamente 40 anos, fora da vida selvagem, contudo sem ter conseguido se integrar ao novo mundo que lhe apresentaram.
A diferença entre Vitor e todas os outros humanos estava na ausência de modelos de relações sociais na primeira e segunda infância, onde se conclui que a fundação do ser humano está nos primeiros eventos da vida em família.
Sendo assim, a família não pode perder a consciência de que os filhos, ao longo da infância até o início da vida adulta, dependem dos modelos dos pais ou de seus cuidadores para que apreendam a vida, desenvolvam a cognição e as habilidades sociais em todos os sentidos. Nesse sentido, falo de modelos comportamentais e também de modelos afetivos. São os vínculos afetivos que, formados nos primeiros anos de vida, determinarão qualitativamente as relações futuras. É a lente pela qual o sujeito verá o mundo.
O problema é que boa parcela das famílias do século XXI perdeu a consciência de sua importância no estrato social e acabou por terceirizar a infância. Mas isso é assunto para os próximos textos.
Sem negar, obviamente a importância da família nessa fase inicial do ser humano, não acredito ser possível afirmar a impossibilidade da socialização né aprendizagem do indivíduo, observando tão um acontecimento. Creio ser necessário acrescentar outras variáveis , nesse tipo de situação ou experimento, tais como a habilidade do “tutor'” em utilizar os domínios afetivo , psicomotor, e o próprio domínio cognitivo, como forma de aproximação, e identificação para estabelecer um relacionamento apartir das características individuais objeto em questão. Levando em conta o desenvolvimento da neurociência, bem como de outros métodos que auxiliam o processo ensino aprendizagem, acredito que nesses dias poderíamos obter resultados diferentes.
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Um forte abraço!!